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Como escolhemos nós viver "essa coisa" a que chamamos Vida?


A vida de cada um de nós pode ser vivida de duas formas:

– À mercê das circunstâncias, vendo nelas apenas o resultado do acaso, ou o fruto de meras ações externas.

- Ou, pelo contrário, ser vivida na certeza de que neste Universo nada é resultado do acaso. Inclusivamente, a nossa existência. E que, por isso mesmo, a nossa vida é uma teia que repousa no Universo e se estende pela Eternidade.

Seja qual for a nossa escolha, com toda a certeza, ela terá impacto na forma como vivemos os nossos dias. Assim como, a escolha que fizermos irá depender do tipo de respostas que damos, ou não, a questões como – Quem sou eu? Qual o significado da minha existência?

Quando vivemos com a crença de que somos apenas o resultado da reprodução da nossa espécie – um corpo, dotado com cinco sentidos que nos permitem sentir o mundo à nossa volta, e de um cérebro que nos permite pensar, optamos por olhar apenas a ponta do iceberg, fechando os olhos à verdadeira dimensão da Vida.

Viver olhando apenas essa pontinha do iceberg, é pautar os nossos dias com superficialidades. É não perceber que, tudo o que é superficial, é efémero e, por isso mesmo, está condenado a não nos satisfazer por muito tempo.

Tendo em conta que somos movidos pelo “desejo”, viver de forma superficial é saltarmos de desejo em desejo, sempre em busca de prazer. Não fosse o “vazio” que, silenciosamente, se instala em nós à medida que os vemos satisfeitos, não haveria qualquer problema nessa forma de viver.

É um facto de que somos movidos pelo “desejo”. E isso não é bom nem é mau. É a nossa natureza. Assim como é da nossa natureza o facto de sermos seres que, ao contrário dos animais, têm consciência da sua consciência. E é aqui que se faz necessário utilizarmos aquilo com que a Vida nos dotou – a consciência - e tentar compreender o que nos leva a deambular de desejo em desejo. Que, uma vez satisfeitos, somos invadidos por essa espécie de vazio que nos tira a paz, e nos faz correr em busca de mais e mais desejos para colmatar algo que nos invade as entranhas. Uma espécie de círculo vicioso que se perpetua no tempo. Porque será que quando vivemos assim, a insatisfação instala-se dentro de nós?

A nossa natureza não se limita a um corpo com os seus cinco sentidos. Somos um veículo através do qual o “Sopro da Vida” (Universo, Deus, Inteligência Cósmica, Vida, ou um outro nome que Lhe queiramos dar), se expressa. Quanto a isso, não são necessárias crenças já que se trata de um facto. Mesmo um ateu não pode negar este facto.

Mas também somos, como disse um dos Grandes Mestres (Jesus), uma partícula desse “Sopro de Vida”, – em imagem e semelhança. Que é o mesmo que dizer, que o que somos vai além do corpo.

E é aqui que as crenças abundam, dando azo a mil e uma interpretações daquilo que nos foi dito, a ponto de atribuirmos qualidades antropomórficas (humanas) a Esse “Sopro de Vida”(talvez por isso, pessoalmente, não goste de usar o nome “Deus” para referir-me ao nosso Criador, já que, para muitos, Ele é uma espécie de humano sentado num trono a beneficiar uns e amaldiçoar outros). Quando fazemos este tipo de avaliação, inconscientemente, estamos a projetar as nossas limitações em Algo que só por Si, é Ilimitado e nunca poderá ser percebido pelos cinco sentidos do corpo.

Por vezes, somos como os peixes que, por viverem debaixo de água, não percebem a existência de um outro mundo além daquele em que vivem.

Vivermos baseados naquilo que os nossos cinco sentidos nos mostram, é arriscarmo-nos a viver a Vida de forma equivocada. É vivermos apenas ao sabor de estímulos externos pelos quais aqueles se regem. Tudo isto em detrimento das necessidades internas do nosso Ser.

Quando pautamos a nossa vida apenas na obtenção de prazeres, como comer, cultivar o corpo/imagem, relações amorosas baseadas no sexo, diversões, etc., estamos a saciar o corpo e o nosso pequeno “eu”. Assim como quando vivemos focados apenas em satisfazer o que achamos que a família/sociedade espera de nós – ter uma profissão, casar, ter filhos. Em ambas as situações, se não alimentarmos a nossa alma, estaremos a ignorar a nossa essência, o nosso “EU”. Ou seja, estaremos a impedir a homeostase do nosso Ser. O seu equilíbrio, a sua serenidade.

Mas que ninguém se iluda, pois tudo isto faz parte da caminhada de cada um de nós.

Todos nós, em algum ponto do nosso caminho, somos invadidos por essa “insatisfação”. E ainda bem que assim é, já que dessa forma é-nos dada a oportunidade de perceber que estamos a viver fora dos eixos. Isto é, que estamos a viver de costas voltadas para nós próprios, de “fora para dentro”. Tal qual um barco que navega ao sabor da maré.

E é nestas alturas que a Vida nos “convida” a olharmos para dentro de nós, no sentido de percebermos a razão dessa espécie de vazio que nos invade a alma.

Se insistirmos em arranjar bodes expiatórios para o nosso desconforto, não ouviremos esse “chamado”.

É claro que ao não entendermos a mensagem, continuaremos viagem olhando sempre para fora, arranjando desculpas para o nosso desalento ( a culpa é do gato, do cão, do pai, da mãe, da infância, da mulher, do marido, do trabalho, e por aí fora), na tentativa de nos desresponsabilizarmos das nossa escolhas. Aliás, achamos que o mundo nos deve, por isso mesmo, dar a solução para a nossa falta de paz.

Quando assim é, quando deixamos arrastar no tempo esse nosso desconforto interno, o corpo acaba por manifestar o que vai mal dentro de nós. E como cada um de nós é único – quer nas memórias que traz para esta vida, quer nas memórias e vivências que tem desta – tudo vai depender do nível de consciência que temos por essa altura. Bem como da nossa “história”. Uma história que não é somente desta vida, mas antes que viaja no Tempo, onde a Eternidade tem lugar.

Para uns, este desafio apresenta-se bem cedo na vida. Para outros, bem mais tarde. Mas a verdade é que, em algum ponto da nossa caminhada iremos sempre sentir esse “não sei o quê” que nos faz sentir uma espécie de “espantalhos”, destituídos de qualquer animus. É o grito da nossa alma a invocar-nos alimento. Como nos foi dito, “nem só de pão viverá o homem”. E, na verdade, assim o é.

Independentemente de tudo isto, ninguém está fadado ao fracasso. Basta que não nos fiquemos pelos efeitos e decidamos cavar bem mais fundo, desviando o nosso olhar de fora para dentro de nós. Basta que aceitemos que o suprimento da nossa alma é da nossa responsabilidade e não de quem quer que seja. Torna-se necessário ouvirmos a voz que ecoa no nosso coração, mas que o ruído do mundo não nos permite perceber/sentir.

Todo este processo é único para cada um de nós. Teremos, pois, que encontrar o “nosso caminho” para lá chegar. Ninguém o poderá fazer por nós. Ninguém. Mas ninguém está desamparado. Apenas vivemos a pensar que sim. Afinal de contas, temos o Universo a pulsar em nós…

Assim que a “viagem” é iniciada, e ao longo do caminho, muitas das nossa ilusões se vão desvanecendo.

Aos poucos, vamos entendendo o significado de “estar no mundo sem ser do mundo”.

E, também aos poucos, vamo-nos religando ao Universo Inteiro. Que é o mesmo que dizer, aos poucos, a nossa individualidade “religa-se” à Unidade, à Fonte que nos alimenta.

Estou em crer, que é essa a finalidade da nossa viagem por estas bandas – o de fundirmo-nos com a Unidade através da vivência da nossa individualidade.

Quando a “fusão” acontece, não mais olhamos este mundo com os mesmos olhos. A gratidão será a nossa grande companheira e aliada. E veremos “Deus” em tudo aquilo que os nossos olhos pousarem… no céu, nas estrelas, no sol, na lua, numa árvore, numa flor, num animal, numa criança, num conhecido, num desconhecido…

Que nunca desistam de procurar o “vosso caminho”, que seja sempre essa a vossa escolha, é o que eu vos desejo. É o que eu desejo para toda a humanidade.

Boa semana para todos


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